segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A beleza não paga.

Era uma tarde atípica de primavera, fazia um calor dos infernos. Mariana de short curto e um top que só faltava mostrar o bico do peito debruçava-se sobre o balcão do bar de seu Euclides. Um senhor baixinho e simpático que se deliciava com a visão da formosa morena. Mariana sabia que era bonita e usava dessa arma para se dar bem, em todas as situações.
Passava horas e horas em frente ao espelho, admirando suas coxas grossas, seios volumosos, boca carnuda, cabelos negros e longos. Sua rotina era se pentear e logo dar sua graça pela vizinhança. Rebolava pra cá e pra lá. Chamava a atenção de todos, produzia nos homens a cobiça das mulheres a ira e inveja.
Joaquim gritava:
_ Marina a belezura do bairro.
Ela fingia que não ouvia, mas dava um sorriso de agradecimento. No Bar do seu Euclides nunca pagava suas doses de cachaça. No começo até queria pagar, mas Euclides nunca permitiu, dizia sempre que só sua presença no seu estabelecimento já era mais que um pagamento. Alegrava o seu dia e chamava freguesia. E isso era verdade, quando Mariana entrava no bar inesperadamente o bar enchia de homens. Loja de roupas, padarias, roda de amigos, até os coroinhas da igreja, disfarçavam, mas não deixavam de apreciar. Quando ela passava todos paravam para admirar a beleza da bela morena. Ela era o melhor produto de marketing do bairro, se brincar da cidade.
E assim foi passando o tempo, Marina aproveitou da sua beleza e os homens também. Nesse tempo ela só pensou em como era bonita e no proveito que tirava disso. Os anos começaram a deixar suas marcas, cabelos brancos surgiam, rugas perto dos olhos. Elas surgiam e o interesse masculino por Marina foi gradativamente desaparecendo. Outras Marinas cresciam e tomavam o seu lugar. Nunca pensou em estudar, conhecer. Sempre achou que o que tinhas bastava, afinal nunca precisou falar mais que poucas palavras. Geralmente era: obrigada pelo elogio.
Em uma sexta-feira de pleno inverno, Marina que religiosamente freqüentava o bar do seu Euclides, tomava sua dose de cachaça dava um beijo em Euclides e pegava seu rumo. Mas esse dia não. Entrou não tinha mais a platéia de antes, só uns poucos gatos pingados. Marina entrou sentou proseou com seu Marcos e Geraldo, esses também não deram atenção. Marina ficou sem jeito, pegou seu copo encheu o copo com sua cachaça e desceu hoje mais do que nunca precisava desse gole. Levantou cambaleante da cadeira, deu um beijo em Euclides, mas dessa vez ele a segurou pelo braço e disse: _ três doses de cachaça são 15,00 contos. Marina virou o rosto e lançou um olhar interrogador e retrucou: _ Mas há anos que bebo e como aqui e nunca paguei, porque agora vou pagar? Euclides com ar de riso responde: _Antes sua gostosura pagava, alegrava o ambiente, hoje não tem nada a oferecer.