quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Mulheres e Poesia


Florbela Espanca


Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim

A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só...


O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!


Cecília Meireles


Retrato

"Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: Em que espelho ficou perdida a minha face.


LUA ADVERSA

Tenho fases, como a lua Fases de andar escondida, fases de vir para a rua... Perdição da minha vida! Perdição da vida minha! Tenho fases de ser tua, tenho outras de ser sozinha. Fases que vão e vêm, no secreto calendário que um astrólogo arbitrário inventou para meu uso. E roda a melancolia seu interminável fuso! Não me encontro com ninguém (tenho fases como a lua...) No dia de alguém ser meu não é dia de eu ser sua... E, quando chega esse dia, o outro desapareceu...


Hilda Hist


Se te pareço noturna e imperfeita

Olha-me de novo.

Porque esta noite

Olhei-me a mim,

como se tu me olhasses.

E era como se a água

desejasse.

Escapar de sua casa que é o rio

E deslizando apenas,

nem tocar a margem.

Te olhei. E há um

Entendo que sou terra.

Há tanto tempo

Espero

Que o teu corpo de água mais fraterno

Se estenda sobre o

Pastor e nauta

Olha-me de novo.

Com menos altivez.

E mais atento.

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